16
Mai10
O DÉFICE!
TC
Quando falamos de défice, pensamos logo no resultado, no jusante, no depois, como é hábito na mentalidade portuguesa; porque não temos o hábito de pensar nas causas, no montante, no antes, onde tudo começa. Por isto, decidir sobre o que fazer, nas nossas vidas, numa empresa, ou na condução de um povo, tem sido sempre em resultado das pressões e conveniências imediatas, como um autêntico tiro no escuro, por não se querer saber dos impactos sociais, do que decidimos escolher. Por vezes, sabemos que têm em conta os impactos económicos das grandes decisões políticas de construção; já é alguma coisa, mas ainda muito insuficiente, porque reduz a importância dos decisores políticos à de um qualquer construtor! Sempre disse que os nossos representantes políticos não passam de engajadores de obra, pois que, face ao desastre da governação do pós 25 de Novembro, ainda não perceberam qual a missão do Estado e a razão da sua existência. O Povo instituiu o Estado, como forma de garantir os serviços essenciais à sobrevivência humana de um povo, sem aproveitamento económico! É que se entregarmos o Estado ao interesse dos privados, a nossa sobrevivência fica dependente da nossa capacidade financeira, para satisfazer a ganância do mercado bolsista capitalista, entregue a especuladores, refugiados num qualquer castelo mundial! Neste horizonte, o Estado deixa de ter sentido de existência, a não ser para os que lá trabalhem! Por isso, a mediocridade política actual defende tanto o Estado meramente regulador, como se fosse possível regular a economia, sem Poder económico; a este propósito, veja-se o que aconteceu, quando o Estado quis evitar as remunerações absurdas nas empresas, onde participa! Para já não falar da desregulamentação dos preços, que nos massacram em todos os lados! Os gestores políticos foram humilhados pelos gestores empresariais que nomeiam; e tudo continua sorridente, relegando-se os políticos a meros serventes de interesses. O Povo assiste desanimado e perguntando como chegamos aqui! Bem, primeiro deixamos que alguém decida sobre o nosso futuro, sem que nos pronunciemos; limitamo-nos a passar cheques em branco, votando..., quando votamos! Segundo, permitimos que os governos sejam eleitos e as decisões se tomem por maiorias relativas. O método de eleição não contabiliza a base real de apoio a um Partido. De há muito tempo para cá, um governo torna-se arrogante e ditatorial, por uma base de apoio popular de menos de 25%, por falta de representação parlamentar dos votos brancos e das abstenções. Quer dizer, os politicosinhos minorcas decidem o nosso futuro, com o apoio minoritário do povo português. Por isso buscam tanto o apoio dos grupinhos privilegiados! Ou seja, o povo não lhes dá o apoio, mas os donos da riqueza dão. E por isto, são estes que decidem quanto tempo lá ficam os governos, orquestrando as campanhas mediáticas que entenderem! Em conclusão, existe o défice orçamental, porque existiu o défice democrático, fundado no défice da inteligência e da ignorância. Com estes estamos cada vez mais endividados, em falência técnica, porque o povo ainda não exigiu representar-se no parlamento, pelas suas associações cívicas, na proporção dos votos brancos e das abstenções! Muito por culpa da esperteza dos novos burgueses e do seu superavit de ganância e da nossa tradicional pacatez e passividade popular! Quanto menos proactivos, menos realizados e respeitados pelos dirigentes insensíveis, desumanos e corruptos! Temos o que merecemos! O que é que o povo quer merecer daqui em diante? Quer continuar a escolher as mesmas opções alternativas, ou estão à procura de um sinal de mudança real nos aparelhos partidários dominantes? Vão insistir na velha mentalidade estúpida? Em democracia a escolha compete ao povo, e a escolha faz-se pelo voto, a bem, ou pela força, a mal! Sempre foi assim...