O GRANDE PLANO!
Enquanto os cidadãos se preocupam com as suas parcas economias, os governos preocupam-se com os resultados da macro-economia, embora todos a toque de caixa do mundo financeiro!
As pequenas economias baseiam-se nos prazos curtos, que só as grandes aquisições de uma habitação desafiam.
Até o simples trabalhador dependente fez o desenvolvimento do seu nível de vida, baseado em rendimentos futuros, aprendendo um pouco de finanças!
Todos aceitaram viver para melhorar o padrão de vida, gastando hoje o que se vier a ganhar amanhã, esquecendo o tempo do ganhar primeiro, para gastar uma parte no presente. Esquecemo-nos da sustentabilidade económica (presente) e começou-se a pensar mais em termos de sustentabilidade financeira (futuro)!
Contudo, se deixarmos de ter o rendimento que esperávamos, sem acautelar a perda dos futuros, só nos resta vender os bens usados, tentando passar o ónus a outros, se houverem interessados, ou então é a ruína, numa situação de falência global dos mercados financeiros. A finança deixa de alimentar a economia, obrigando ao decrescimento das transacções, o que nos conduz ao empobrecimento ou à estagnação! A regulação começa no dia em que as finanças baixam as expectativas económicas e invertem a tendência das concessões aos privados e aos Estados; é a crise!
Porque o crescimento económico foi feito com recurso ao endividamento progressivo (crescimento do défice orçamental e da dívida), chegou o momento em que o rendimento gerado pelo crescimento económico, com manutenção das produtividades, não foi suficiente para liquidar sequer os juros da dívida contraída, que começaram a pesar fortemente nos orçamentos, que se tinham projectado para um desenvolvimento não sustentado, à medida dos sonhos de grandeza dos políticos, instigados pelos executores de obra!
E aqui entram as opções políticas; ou se diminui o ritmo de desenvolvimento do País e até se empobrece o nível de vida, regredindo nos avanços sociais, com custos enormes, ou se mantém o nível atingido, racionalizando gastos, remunerações, o funcionamento dos serviços e a manutenção do património, transferindo-se a poupança para o pagamento da dívida; significa reduzir investimento e orçamentar rigorosamente uma margem de maneio, para fazer face a necessidades não previsíveis, que acabam por realizar o défice orçamental crónico. Significa também aplicar uma justiça social efectiva, diminuindo diferenças salariais e aplicando os mesmos privilégios e regalias a todos! Significa, por último, uma mentalidade de responsabilidade, na gestão da coisa pública, ao serviço dos contribuintes e não dos servidores do Estado, o que implica a participação dos cidadãos nos corpos administrativos das instituições locais!
O que fizeram os governantes portugueses?
O que começou a ser hábito, no cenário do pós-25-de-Novembro! A velha burguesia económica procurou aliados nos Partidos políticos, alternativos de Poder, financiando campanhas, projectos de desenvolvimento privado, geridos pelos habituais das lides eleitorais, com o objectivo do retorno em obras públicas.
Encontraram muitos aspirantes a “novos ricos”, que enriqueceram num ápice. O povo português pagou as obras, o enriquecimento pessoal dos decisores políticos e ficou ainda responsável pelo pagamento das dívidas.
Mas eis que os actuais governantes são chamados à barra do endividamento excessivo e têm de fazer um golpe de rins; como continuar a alimentar a ganância dos seus patrocinadores e como evitar serem queimados no fogo da revolta popular?
Fácil; continuaram a desorçamentar despesas e a vender património público. O povo não faz grandes compras, não sabe o que é o nosso património comum e não estuda o orçamento, como também está bem vendado pela comunicação social, que debita apenas o que alimentar a confusão!
Assim, foram desorçamentando, criando empresas públicas, em trânsito para privadas, onde se refugiaram todos os queimados das contendas políticas partidárias, na qualidade de gestores de topo, para abrirem o negócio à participação accionista dos velhos financiadores das campanhas eleitorais. Quer dizer, tudo o que é negócio apetecível do Estado, começa-se por dizer que só dá prejuízo, depois cria-se uma parceria público-privado, que cria mais prejuízo, enquanto se habitua o povo consumidor ao serviço disponibilizado. Quando menos se espera, anuncia-se mais uma catástrofe financeira, para lançar mais taxas e preparar a desvinculação do Estado, autonomizando-se mais um negócio privado. Acontece isto com o plano rodoviário de construções de Auto-estradas. O Estado (nós, obrigados pelos governantes) lançou negócios, desenvolveu-os e entregou-os, de mão beijada, aos controladores dos políticos de meia tigela, que proliferaram em Portugal, à procura de fortuna pessoal, baseados na prostituição ideológica!
De facto, somos carentes em políticos e muito mais em estadistas, o que abre caminho para os oportunistas fingidos, apostados apenas nas negociatas privadas e na traficância de influências! Que se ramificam por todas as instituições, às quais se dá autonomia, para que usem como bem entenderem, ao sabor de critérios pessoais e interesses duvidosos, que fazem regras diferentes de local para local, na forma de regulamentos à medida dos mandantes, sem a participação dos pagadores do sistema, que passam a ser parasitados. Entretanto, o vício faz alguns pequenos ditadores almejarem pela regionalização, como forma de terem um condado feudal para si e para o seu grupo de amigos, onde possam mandar!
Por isto, temos hoje um sistema ideologicamente descaracterizado, pautado apenas pelo interesse pessoal e dos grupos dominantes, em que a esfera económica comanda o Estado e prepara-se para desferir o golpe final, que faria corar de vergonha o pior capitalista do século de Marx!
A troco da falta de solução para a crise, propositadamente gerada, o Estado vai ser desmembrado e vendido por preço simbólico aos privados, nas partes que o sustentam economicamente e são o garante da sua autoridade, para fazer cumprir o Bem comum.
Finalmente, a política de nacionalizações conduziu à política de privatizações e a família Espírito Santo e congéneres ficam satisfeitas pela vingança de uma geração, que viu os seus progenitores limitados pela mania estatizante de Salazar!
Contudo, as vinganças nunca foram boas conselheiras, por serem o fim de um ciclo de trabalho, a perverter a democracia e o funcionamento económico, colocando o negócio e o Estado ao serviço dos gananciosos e não ao serviço de quem os paga, que são os consumidores e os cidadãos eleitores!
Agora, os herdeiros do antigo regime querem privatizar, o que o ditador quis que fosse do Estado, mandando encerrar escolas e outras instalações, que estiveram ao serviço dos mais desfavorecidos e isolados do interior. Andam já à procura de novos líderes e alternativas governativas aos actuais desgastados, procurando novos discursos e aparências pessoais, que nos enganem com palavras, mas ainda com o defeito de se contradizerem, em função do agrado ou desagrado causado na opinião pública e medido pelos controladores de sondagens!
É uma pena que o povo seja o que é, habituado a pensar pouco e a gozar o que permitirem, uns na qualidade de espectadores e outros na qualidade de aproveitadores, por deterem o exercício de um qualquer Poder; contudo, existem sempre lutadores por ideais, capazes de fazerem a revolução, que se impõe.
O sonho de um País melhor começa a ser mais real, porque o acordar é sempre mais violento, sobretudo quando nos sentimos traídos pelos que nos prometeram Liberdade, Justiça, Democracia e Felicidade para todos!
Desta vez os descontentes são do povo e portanto os revoltosos, sem que os aspirantes a burgueses possam ser instrumentalizados pelos gananciosos, porque já o são e foram convidados para desencadear o 25 de Abril; só quem está mal tenta mudar. Como só os bons portugueses é que estão mal e se sentem mal, resta-lhes fazer algo pela revolução, de modo que o resultado possa ser bom para Portugal e nos conduza ao Bem prometido.